A guilhotina, por absurdo que pareça, derivou do projeto de um médico humanitário, o doutor Guilliotin, que enviou a recomendação da sua fabricação à Assembléia Nacional em 1789. Menos de três anos depois, uma máquina de matar em massa começou a ceifar vidas durante a revolução numa rotina que parecia não ter mais fim. O alarde correu por toda a Paris. Que fossem à Place de Grève para assistir uma execução com uma nova máquina.
Os bairros patriotas mobilizaram sua gente para vê-la ser experimentada num ladrão comum, um tal de Pelletier. Era o dia 25 de abril de 1792 quando a multidão começou a aglomerar-se em frente ao patíbulo. Sobre ele, lá em cima, coberto com um pano breado, estava o assustador artefato. Comentou-se que Samsom, o carrasco oficial da cidade, havia se exercitado antes em vários repolhos. A multidão calou-se. Traziam o condenado. A cabeça dele havia sido tosada para que os cabelos do pescoço não criassem embaraços ao cortante fio do cutelo. O verdugo estendeu o desgraçado numa prancha, amarrado, e soltou a alavanca que suspendia a lâmina. O aço, com traçado diagonal, despencou-se sobre a vítima com a rapidez do bote da serpente, um sucesso. No cesto, a cabeça saltou e parou. A multidão exclamou uníssona, fascinada pelo espetáculo e pelo horror.
O Doutor Guillotin (1738-1814)
A máquina funcionava, a guilhotina começava a fazer história. Poucos na vida tiveram a infelicidade do doutor Joseph Ignace Guillotin, que teve a má sorte de ter seu nome associado à morte. Na verdade, era um cientista respeitado e um profissional de sucesso, dedicado à causa da saúde pública, considerado um emérito médico vacinador. Antes da Revolução de 1789, foi clínico do conde de Provence e indicado, graças a sua credibilidade, para participar da comissão que desmascarou a impostura de Mesmer, um aventureiro que encantou os ingênuos da época com suas experiências sobre o magnetismo animal.
Eleito representante do Terceiro Estado, tratou de apresentar um projeto que aplicava o princípio de Beccaria da uniformização das sentenças, afirmando que "les délits du même genre seront punis par le même genre de peine, quel que soient le rang de l'etat du coupable", "que os delitos do mesmo gênero serão punidos pelo mesmo gênero de pena, não importando a origem social do culpado". Para democratizar as penas de morte, Guillotin sugeriu a construção de um engenho para tal fim; "a mecânica tomba... a cabeça voa, o sangue jorra, o homem não existe mais." Por isso passou o resto da sua vida, morreu de carbúnculos em 1814, tentando inutilmente desassociar o seu nome do terrível engenho. Igualdade até na morteFouquier-Tinville, acusador-mór da revolução.
Era a
igualdade uma das máximas da
Revolução de 1789, chegando ao patíbulo. O projeto do doutor Guillotin, apresentado em dez de outubro de 1789, com o apoio de
Mirabeau, não foi imediatamente aprovado. Mais um passo foi dado, em cinco de junho de
1791, com a lei do deputado
Le Peletier de Saint-Fargeau, que determinava que
"todo o condenado à morte terá sua cabeça decepada". Abolia-se a forca, a espada e a roda, bem como as torturas. Em seguida, a Assembléia Nacional autorizou o secretário da Academia de Cirurgia, o doutor Louis, a idealizar o
aparelho mortífero. Este entregou a parte mecânica do projeto para um prosaico fabricante de harpas, um alemão de nome
Schmitt. Na verdade, o artefato deveria chamar-se
"louison", mas, uns tempos antes,
o jornal monarquista Actes des Apôtres, satirizando o projeto, publicou que
"cette machine suplicielle devra-t-elle porter la denomination douce... de guillotine!" ,
"esta máquina supliciadora deveria trazer a doce denominação de... guilhotina! "Pobre doutorGuilhotinados Célebres (
França)
25 de abril de
1792 o
operário Nicolas Jacques Pelletier foi o primeiro condenado à guilhotina.
21 de janeiro de
1793 :
Louis XVI, ex-
rei da França16 de outubro de
1793 :
Maria-Antonieta da Áustria, ex-rainha da
França5 de abril de
1794 :
Georges Jacques Danton8 de maio de
1794 :
Lavoisier, químico francês, considerado o criador da Química moderna.
17 de Julho de
1794 : As
Carmelitas de Compiègne28 de julho de
1794 (10
Termidor do ano II),
Maximilien de Robespierre.
25 de fevereiro de
1922 :
Henri Désiré Landru, assassino de dez mulheres e de um menino.
17 de junho de
1939 :
Eugen Weidmann, assassino de seis pessoas (última execução pública na França)
25 de maio de
1946 :
Marcel Petiot, assassino de pelo menos 27 pessoas.
Novembro de
1972 : execução de Claude Buffet e Roger Bontemps (por seqüestro seguido do assassinato dos seqüestrados)
28 de julho de
1976 : execução de
Christian Ranucci, acusado de matar uma criança.
10 de setembro de
1977, em
Marselha : última execução, a de
Hamida Djandoubi pela
tortura seguida do assassinato de uma mulher de 21 anos.
Estas três últimas execuções contribuíram a por um fim à
pena de morte na
França, que foi abolida em
1981 pela Assembléia Nacional sob proposta de
François Mitterrand e
Robert Badinter. Em particular a de Christian Ranucci, pois certos elementos sugeriam que ele fosse talvez inocente do crime pelo qual fora acusado e condenado
[ Fonte Educaterra / wikipedia ]